quinta-feira, janeiro 9

A Biografia Humana como Caminho Iniciático

“Se você quiser conhecer o mundo, conheça a si mesmo, e se quiser conhecer a si mesmo, conheça o mundo ” Rudolf Steiner

Como este tema é muito grande e muito próximo do meu coração, hoje posso compartilhar alguns pensamentos do meu entendimento sobre a imagem do ser humano do ponto de vista da Antroposofia, e também, como um ser humano desta época.


A partir do gráfico da curva biográfica que mostra a vida terrena em períodos de sete (7) anos dos 0 aos 63 anos, a metade aos 31 ½ , gostaria de falar sobre o caminho de encarnação e excarnação do ser humano. Depois da morte temos a oportunidade de olhar para traz e avaliar como essa vida se passou, e até chegar esse momento, fazemos uma viajem muito longa, em diferentes níveis ascendentes pelas esferas planetárias.

Quero falar sobre uma grande visão cósmica que R.Steiner nos dá quando chegamos no ponto de virada , e sobre a avaliação que fazemos antes de voltarmos novamente à Terra através das esferas planetárias preparando a nossa próxima vida. Este ponto de virada se chama meia noite cósmica.

Neste trajeto, a nossa consciência vai se ampliando ,e nosso espírito, que é um órgão muito grande de sentidos , nos possibilita perceber o Ser do Cristo ao nosso lado, e desse modo, avaliarmos como contribuímos com nossas vidas passadas para o desenvolvimento da Humanidade como um todo. Olhando através dos olhos do Cristo , podemos vislumbrar o futuro e o que precisaremos fazer, qual o tipo de vida teremos que viver para continuar a contribuir com a Humanidade.

Nosso próprio desenvolvimento pessoal está conectado com o desenvolvimento da Humanidade e é no ponto de virada , na meia noite cósmica, que definimos nossas intenções primordiais. A semente espiritualizada do nosso coração é aí formada e R. Steiner nos diz que o coração é o órgão com o qual podemos perceber o nosso Carma.

Podemos então observar dois aspectos : 1) quando venho com o meu Ser e faço a minha contribuição ao mundo ; 2) quando quero continuar o meu próprio desenvolvimento pessoal.

No ponto de virada podemos ver todas as pessoas com quem temos uma rede de desenvolvimento e que estão ligadas à nossa missão na Terra. Quando nascemos, chegamos abertos para receber o que as pessoas nos dão e com curiosidade para o que vem ao nosso encontro.

Passamos por ciclos de 7 anos aonde o foco está, em cada período, em um membro específico do nosso Ser: dos 0 aos 7 no corpo físico, dos 7 aos 14 no corpo etérico, dos 14 aos 21 no corpo astral, e quando esses 3 corpos estão preparados, nosso Eu pode então nascer. Nos primeiros 21 anos absorvemos do mundo e somos impregnados com o que as pessoas nos dão e assim formamos o conteúdo da nossa alma. Todo esse caminho é no sentido de desenvolver o Eu como instrumento, aí esse Eu pode tomar a biografia como instrumento para o desenvolvimento .

O nascimento do Eu é o momento que damos um passo para fora da família e, ao mesmo tempo, um passo para dentro da própria vida e assumimos a responsabilidade por ela. A nossa biografia é a coisa mais preciosa que temos e somos exclusivamente responsáveis por ela.

O que fazemos com nossa biografia é uma experiência pessoal. Quando damos esse passo em direção à nossa própria vida temos 3 ciclos para desenvolver a nossa alma, e depois mais 3 ciclos para desenvolver o nosso espírito. A fase dos 21 aos 42 anos é para interação, e a fase dos 42 aos 63 anos, para devolver o que recebemos ao mundo, fazer a nossa contribuição ao desenvolvimento da Humanidade.

Essa é uma tarefa que podemos assumir e que não acontece por si , pois o Eu só se desenvolve através da nossa própria atividade e nada mais. Podemos olhar para a nossa vida passando por esses setênios como uma espiral, olhando de vários pontos diferentes, e o tema da nossa vida não precisa ser resolvido, mas ela precisa ser vivida através do nosso Eu. A Humanidade também tem esses estágios e ciclos, mas em uma amplitude muito maior de tempo.

Agora estamos na chamada época da Alma da Consciência, chegamos apenas no começo, mas temos que cumprir com a tarefa desta época. O que exatamente isto significa nesse momento ? Temos como potencial o ciclo entre 28 e 35 anos e R. Steiner disse que durante esses 7 anos temos a possibilidade de olhar para a nossa vida do lado de fora e essa é a maior emancipação que o ser humano pode fazer – olhar a própria vida como se ela fosse de uma outra pessoa no sentido de entrar em contato com o próprio Eu. Encontramo-la do lado de fora e do lado de dentro, e tudo o que vem ao nosso encontro tem a ver conosco ; as pessoas que encontramos no mundo espiritual, as encontramos agora novamente.

Todos os eventos que acontecem, revelam alguma coisa da pessoa que somos. Precisamos aprender a olhar para isto. Olhar para dentro, para o próprio pensar ,sentir e querer, e saber que somos muito mais que isto. Quando damos um passo para fora,criamos a possibilidade de nos desidentificar para, em seguida, nos re identificar conosco mesmos, e isso só pode ser feito ativamente. Esta é a pré condição para o desenvolvimento da Alma da Consciência que acontece no ser humano na fase entre os 35 e 42 anos.

Depois de ter vivido um certo tempo, podemos nos fazer algumas perguntas , como por ex : É essa vida que quero viver ? Estou realizando o que vim aqui para fazer ? Isso nos obriga a definir nossos próprios valores e a possibilitar que nos tornemos uma autoridade interna, independente da externa. Traz responsabilidade para definir nossos próprios valores que são desenvolvidos por nós mesmos individualmente, o que define aquilo que sustentamos e para que queremos usar nossa vida, com o que queremos contribuir. Ninguém pode nos dar isso.

Quando olhamos para o nosso tempo atual enquanto Humanidade, chegamos a esse limiar e podemos nos perguntar : o que posso fazer ? Somos o centro da nossa vida e por outro lado temos a possibilidade de, com toda a tecnologia, ver bem longe no Cosmos e perceber como ele é grande e é nessa casa que moramos. Vivemos nesses dois pontos. Nessa época da Alma da Consciência somos capazes de fazer viagens pelo Cosmos e olhar tudo do lado de fora.

Nesta nossa época nenhuma vida é fácil e para desenvolver a Alma da Consciência individualmente temos que enfrentar testes e desafios que encontramos na nossa própria vida. Como Humanidade estamos neste ponto de virada e nos perguntamos o que fazer desse mundo. O desenvolvimento apenas acontece quando encontramos as forças adversas, assim temos que conhecer o mal e como essas forças atuam.

O que Ahriman traz para nós ? Ele é muito inteligente ,ele tem a ver com poder e isso tem a ver com a nossa época. A tecnologia tem a ver com controle o tempo todo e com todo mundo – vide facebook, google, etc… Temos que nos perguntar o que está por traz de uma força que quer nos empurrar numa direção. Ahriman precisa do nosso livre arbítrio para operar, precisamos estar atentos à sua sedução e como cedemos a ele.

Um grande cientista da atualidade, Stephen Hawking, fala sobre inteligência artificial e que estamos numa corrida entre o avanço da tecnologia e a sabedoria para podermos usá-la, e que, no futuro talvez não mais existirá a pergunta “quem está controlando ?”. Então, como podemos desenvolver significados e caminhos para lidar com isso ? O que queremos fazer com a Terra ? Como queremos viver aqui ? Nós temos que decidir e não deixar outros decidirem por nós.

Todos estamos encontrando esta situação em nossas vidas pessoais, nem precisamos olhar muito longe, a própria vida está trazendo isto para nós. O poder das forças adversas se realizando no mundo externo e também na nossa alma é um campo de batalha. E é através das nossas próprias crises que temos que olhar interna e externamente para podermos aprender a conhecer este fenômeno e decidir o que fazer com isso.

Quando conseguimos olhar para a profunda conexão que temos com a evolução da Humanidade, é aí que podemos ver como fazer a nossa contribuição. Nossa vida pessoal é muito íntima, só pertence a nós mesmos, mas, ao mesmo tempo, estamos vivendo com a Humanidade. Trabalhando nos desafios da nossa própria biografia podemos fazer a nossa contribuição pessoal, mas para que isso aconteça, é necessário que tudo passe pelo nosso próprio Eu.

Os desafios que vieram ao nosso encontro no passado fizeram de nós o que somos agora. Temos que aprender a olhar a própria vida de maneira objetiva. Assim poderemos olhar para os eventos externos, que estão do lado de fora, e ver a correspondência interna na nossa alma. Quando observamos os padrões e o fio vermelho da nossa vida , o sentido resplandece, descobrimos porque agimos de determinada forma e porque as coisas vem na nossa direção. E quando isto acontece, brilha uma confiança na existência do mundo espiritual e percebemos que existem forças criativas por traz de tudo.

Desta forma, nos damos conta do sentimento de estarmos totalmente sós e, ao mesmo tempo, nunca estarmos sós. O mundo espiritual está conosco o tempo todo, mas ele precisa ser conhecido por nós. Steiner fala de três qualidades a serem desenvolvidas nessa época :

Compreensão social, entendimento prático da vida. Não dá para ler isso nos livros, acontece quando aprendemos a nos ouvir uns aos outros e necessita de um profundo interesse de um ser humano para outro. Através disso podemos aprender uns com os outros.
Liberdade da vida religiosa. Isso significa uma profunda tolerância com o que acreditamos, aceitação de que crenças são pessoais e que cabe a cada um construir suas próprias crenças. Dar liberdade a cada um para ir em busca de sua própria verdade, deixar cada um livre para fazer essa escolha.
Precisamos adquirir um conhecimento vivo do mundo espiritual, aprendermos a nos relacionar com ele para que ele possa se relacionar conosco. Existem forças criativas que estão por traz da criação esperando por nós para podermos trabalhar juntos.
O começo da Alma da Consciência é o começo deste caminho. No passado haviam os Centros de Mistério que tinham ritos específicos de Iniciação e eram secretos. No nosso tempo todos os segredos estão revelados, acontecem nas crises das nossas vidas e depende de nós estarmos despertos ou adormecidos para a possibilidade de Iniciação que existe aí.

Os desafios nos ajudam a conhecer a vida e ver que ela é esse caminho de Iniciação que estamos percorrendo todos juntos.

Palestra proferida por Anita Charton

Auditório da Sociedade Antroposófica

18/05/2015

PUBLISHED IN: A BIOGRAFIA HUMANA COMO CAMINHO INICIÁTICO

Nenhum comentário:

Postar um comentário