quarta-feira, agosto 24

“Arte, imitação da Natureza que cria, não da Natureza criada”.Goethe


Algo festivo emana da arte que nos conduz além da rotina diária. Tal arte preenche um desejo interno pela beleza, verdade e bondade e nos faz feliz. Esse elemento elevado nós vivenciamos como algo que nos cura, nos faz respirar de novo.
Se quisermos saber os diferentes aspectos da cura pela arte, não podemos parar na afirmação que, às vezes, ouvimos: “a arte sempre cura”.
Deve-se fazer uma distinção entre o papel que a Arte tem na cultura no que diz respeito à humanidade como um todo e o papel que ela pode ter no tratamento de uma pessoa doente.

Atualmente está surgindo um mundo com desejo pelo artístico, que pode ser explicado como uma reação à vida que tem se tornado cada vez mais materialista e que freqüentemente nos torna muito passivos devido à tecnologia. Está se dando importância à própria criatividade. Não só as pessoas vão com mais freqüência a museus e exposições de arte como se engajam com mais constância em atividades criativas, por exemplo, desenho, pintura e todo tipo de arte ou atividades artesanais.

Pode-se ficar satisfeito com essa virada na vida cultural por um lado, enquanto a vida econômica segue a seu modo rígido e desumano de outro. Devido a isso, surge uma certa dualidade na qualidade de vida e também na arte; por isso não é correto dizer que a arte é sempre curativa. Na atual vida cultural, precisamos aprender a escolher conscientemente qualidades que sejam positivas. Muitas pessoas hoje, com certeza, se dão conta de que o artístico deve fazer parte da vida diária como parte de se manter a saúde e este é um indispensável fator cultural.

A criatividade está por trás da natureza de todo ser humano e é parte de seu bem estar. Estimular essa criatividade é, portanto, correto e benéfico, mas a grande questão é: o que deve ser feito, quando é a hora certa para isso e como deve ser feito?

Enquanto essas perguntas não suscitam problemas, não existe dificuldade. As pessoas têm os mais variados tipos de hobbies. Sentem prazer em se ocupar, relaxam, chegam a novos pensamentos, procuram satisfação em visitar centros de arte, em estudar arte ou história da arte. Para algumas pessoas o exercício e a experiência artística fazem parte do seu desenvolvimento interior e buscam então as bases filosóficas e religiosas ligadas a estes. Isso acontece, freqüentemente, sob a orientação de um artista que ministra um curso ou aulas particulares. Há ainda as crianças - que são essencialmente todas artísticas — dependendo do sistema escolar, se esse aspecto é desenvolvido nelas ou não.

Existe ainda um outro grupo de pessoas que necessitam da arte, mas para o qual a sentença “a arte sempre cura” de fato não é válida. Este grupo constitui-se das pessoas realmente doentes. Para a pessoa doente, que vai a um médico em busca de ajuda, para a pessoa enferma que não pode continuar seu caminho sozinha, sem acompanhamento — para essa pessoa o “o que”, “o quando” e “o como” são de máxima importância na expressão artística.

Aqui não se está preocupado com hobbies artísticos, educação ou treinamento, mas com a situação onde o artístico se torna medicamento. Neste ponto é necessário conhecer o máximo possível sobre o que, o quando e o como os elementos artísticos (às vezes, os mais simples elementos construtivos) têm um efeito nos processos do corpo e da alma. O que causa uma determinada cor, o que é evocado por determinada forma, como a pessoa doente se relaciona com estes elementos? Essa relação determina se a pessoa pode ou não libertar-se da doença. Para ela a arte é um acontecimento fisiológico-psicológico, traduzido em imagens artísticas.

Pode-se referir à influência higiênica da arte em geral, e pode surgir dúvida quanto ao papel que a arte pode ter no processo de cura. O slogan “A arte sempre cura” pode ser tratado como ”Se a arte não faz nenhum bem, pelo menos também não pode fazer nenhum mal”. Pode-se conceder à linguagem da arte a possibilidade de influenciar positivamente um determinado processo numa doença, mas nem toda arte é curadora, podendo até ter um efeito prejudicial sob certas condições.

Rudolf Steiner (criador da antroposofia) criou a Euritmia, uma nova forma de movimento, como arte. Pode ser praticado por pessoas saudáveis, e é também parte do currículo na Pedagogia Waldorf, visando o desenvolvimento sadio da criança.

Para pessoas doentes, Rudolf Stcimmer desenvolveu a “Euritmia Curativa”. Com certos elementos adaptados da Euritmia, os movimentos dos pacientes evocam gestos internos, que podem ser benéficos para um paciente e o mesmo movimento pode ser prejudicial para outro.

O que é válido para essa terapia do movimento, pode também ser dito para qualquer outra terapia que se utilize da arte. O paciente está, geralmente, numa situação de vulnerabilidade e abertura para a essência da linguagem do jogo de forças no artístico. Ele se exercita sob a orientação de alguém que foi treinado artística e terapeuticamente e que deve trabalhar junto a médicos. A dieta, a escolha, a “homeopatia” dos impulsos artísticos é trazida para o paciente, e ele precisa carregá-la e relacionar-se com ela. Aqui, o quê, o quando e o como são de muito maior importância do que o resultado puramente artístico.

O encontro entre o que se expressa na cor, ou na forma e aquele que “ouve” o que acontece é fundamental. Ser capaz de compreender esta conversação entre a expressão artística e o ser do paciente, conduzir esta conversação para os canais certos (que possam promover o equilíbrio) é a tarefa da Terapia Artística, uma tarefa que é parte sociocultural, parte pedagógica e parte de natureza científico-filosófica, mas cujo objetivo principal está no âmbito da cura médica, de forma individualizada.

Anotações de palestra proferida por EVA MEES-CHRISTELLER
Diretora da Escola de Terapia Artística “De Werwel” — Holanda

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