segunda-feira, agosto 22

Oh, natureza que nos beija e abraça. -Goethe

Oh, natureza que nos beija e abraça. Não podemos libertar-nos do teu abraço, nem penetrar mais profundamente em ti. Sem nos convidar nem prevenir, colhes-nos no circuito da tua dança e nos arrastarás em teu giro, até que, esgotados, desprendamo-nos dos teus braços…

Vivemos no meio dela e lhe somos estranhos. Não cessa de nos falar, mas sem nunca nos revelar seu enigma. Não deixamos de a constranger e nunca a dominamos. Tendo o ar de tudo relacionar com o indivíduo, zomba dos indivíduos. Ocupada sempre em destruir, constrói sem cessar. Vive somente em seus filhos, mas onde está a Mãe? É a única artista. Cria os maiores contrastes. Com a matéria mais simples, alcança as mais altas perfeições, sem a menor aparência de esforço. Minuciosa, exata, estrita, envolve de delicadeza o rigor de sua precisão…
A Natureza representa uma peça. Assistí-la-á ela própria? Ignoramos. No entanto, representa-a para nós que estamos aqui…
Transforma-se eternamente e nunca há um momento que esteja parada…
Acha-se presente nas coisas menos naturais. Quem não a vê em todos os lugares, não a vê bem em nenhuma parte. Ela se ama a si mesma, une-se a ela própria, com todos os seus olhos, todos os seus corações. Para poder gozar de si própria, fragmenta-se até o infinito. Nunca se cansa de oferecer-se a todos, não cessa de criar novos hóspedes para si. Compraz-se com a ilusão. A quem a destrói em si ou nos outros, ela castiga como um tirano cruel. A quem a segue confiadamente, estreita-a contra o coração, como uma criança…
Seu espetáculo é sempre novo, porque cria sem descanso espectadores sempre novos. Sua mais bela invenção é a vida e a multiplica com a morte. Rodeia o homem de trevas, empurrando-o eternamente para a luz. Encadeia-o pesadamente à Terra, fá-lo preguiçoso e torpe e não cessa de excitá-lo a sair de sua dependência…
Deixa qualquer menino subtilizar sua conduta, consente que os loucos a julguem, deixa que milhares de seres passem por ela sem a sentir e sem a ver…
Com alguns goles da taça do amor, indeniza-nos de uma vida penosa…
Ela é tudo. Recompensa-se a si mesma, pune-se a si própria, procura ela mesma suas alegrias e seus tormentos. É rude e é doce. É amável e terrível. Sem força e toda poderosa ao mesmo tempo… É boa… Eu a louvo em todas as suas obras. Engana-nos, mas com boas intenções. E o melhor é não reparar suas astúcias. É completa e nunca está concluída…
Ela me fez entrar na dança e me fará sair. A ela me confio. Que me governe à sua vontade, pois não pode detestar sua obra. Não sou eu que tenho falado dela. Não. Ela é que tem dito tudo, o que é verdadeiro e o que é falso. Tudo acontece por sua culpa e tudo redunda em sua glória.
Goethe

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