quarta-feira, janeiro 8

Pedagogia da alma

“Não há nada que eu posso te dar que já não exista dentro de ti mesmo.
Apenas posso propor outras imagens, além das tuas...
E assim ajudo a tornar visível teu próprio universo.”

Hermann Hesse



Ultimamente o meu ser anseia por traduzir em palavras o universo da Pedagogia do Sutil, do Sagrado, ou da Alma...
Busco no silêncio, na observação da arte e da natureza; fios de percepções sobre este belíssimo trabalho. Estar simplesmente em contato com a energia do coração, com as profundezas do Ser; significa, deixar a presença da Alma fluir e nos guiar livremente para o lugar que ela necessita. “A abertura do coração desenvolve reverência, veneração, respeito, compaixão e capacidade de servir amorosamente. A partir daí, descobrimos-nos seres espirituais e permitimos que o sagrado faça parte da nossa vida”. (Martinelli)

A presença da Alma nos mostra genuinamente os caminhos a serem trilhados, e nos ensina a reconhecer a fonte do poder interior de que dispomos (somos força, cura, abundância, ordem, vontade, transformação, fé...).

A Pedagogia da Alma ouve esta presença e compactua com aquilo que é belo, com o sagrado em nós, com a busca do sentido e da significação. Ela reconhece a autenticidade do Ser, a criança eterna que vive em nós, o significado da nossa singularidade, da inteireza humana...

Ela está a serviço do mundo sutil, da voz interior, do amor, da verdade, de que “todos somos um”, e que a partir dessa consciência, podemos favorecer a expressão da vida criativa – pessoal e coletiva.

Ela vê a criança com os olhos da Alma, portanto, ela reverencia o sagrado que nela habita...

A Pedagogia da Alma reconhece o Ser Criador presente nas cores, nas tintas, pincéis, papéis, no barro, lãs, tecidos, nas estórias; palavras; no canto, na alquimia da vida...

Evoca a energia do silêncio, da meditação, do vazio...

Busca a simplicidade do vento, a beleza da luz do sol, o calor do abraço, a gratidão pela existência.

Vivemos nesse momento, a manifestação de um novo modo de pensar, sentir e de agir...

Segundo Ruy Cesar do Espírito Santo (2000), “a perda do contato com o sagrado é o surgimento da insignificação”.

Não há mais tempo para teorizar conceitos sobre a educação, e nem tampouco deseducar nossas crianças e escolas. Reconhecemos que o sistema educacional está defasado, pois não investe na expansão de consciência - no entanto, é tempo de vivermos em comunhão com a concepção integral do ser humano, um caminho que permanece num círculo de aliança com a essência divina...

Em verdade, surge então a partir dessa jornada, uma gigantesca ciranda de roda entre educadores que amorosamente entrelaçam suas mãos a milhares de crianças e jovens. Estas por sua vez, emergem da autocura, do renascimento, transcendem desafios, ampliam novos horizontes, celebram a VIDA...

(silêncio para meditação)

“A verdade está dentro de nós,

Há um centro interior em todos nós,

Onde a verdade mora, em sua inteireza, e conhecê-lo,

Consiste antes em abrir o caminho

Pelo qual o esplendor prisioneiro possa escapar

Do que tratar na entrada de uma luz

Que se imagina estar no exterior”.

Sarah Mariott

É chegado o momento de reconhecermos o Sagrado em nós e assim prosseguirmos rumo a Pedagogia da Alma...

No artigo anterior, partilhei sobre a grande necessidade de buscarmos a ampliação de consciência enquanto educadores, e através dessa percepção, resgatar a força criativa e transformadora de que dispomos.

Nós, ocidentais estamos habituados a dar importância apenas ao raciocínio, e muitas vezes consideramos irrelevante o diálogo profundo com os níveis mais sutis do nosso Ser. No entanto, é somente nesses níveis que podemos descobrir o que devemos mudar e o que fazer para que este trabalho aconteça. Temos de aprender a exercer o nosso poder interior centrado no coração, que em várias situações nos direcionam e nos mostram os caminhos, e permitir que ele se expanda a cada dia...

Através de um coração compassivo e de uma mente clarificada pelo Amor, podemos contribuir para o exercício da nova educação que emerge entre nós. O equilíbrio das emoções e das energias do nosso corpo físico intensifica-se quando abrimos o nosso coração a estes movimentos sutis, e também quando compreendemos que somos parte da centelha divina-maior. Muitos sábios referem-se ao coração, como o centro da alma, e enfatizam que nele reside o poder de autocura, doação e entrega. O cérebro é o centro da mente, mas o coração é o centro da vida. Percebendo mais profundamente a nossa essência, e apossando-nos do que realmente somos, podemos manifestar mudanças em nosso Ser, e tudo o que fazemos adquire dimensões mais elevadas. Para Martinelli (2000), “Se nos transformamos, mudamos nosso entorno, agimos no mundo, assim como o mundo age em nós. Se quisermos um mundo melhor, temos de nos tornar melhores. Essa regra se aplica aos professores e a todas as pessoas, na sociedade, na família e no trabalho”.

Vivemos um tempo de cultivar a linguagem do coração e a intuição como a inspiração da alma – e de permitir que os mundos sutis desvelam-se a nós.

Desta forma, buscando a percepção integrada (externa e interna) permitimos a nós mesmos um desenvolvimento harmonioso para remover os obstáculos, e confiar na força interior de que dispomos.

Podemos ser emissários dessa nova vibração transformadora, nos tornando receptivos a esse despertar, nos identificando não com a nossa personalidade, nem com a mente, mas sim com o nosso Ser profundo.

Que sejamos a expressão sagrada da vida!

Convido ao leitor, que ao acordar de manhã, antes de pensar em qualquer coisa; feche os olhos, respire tranqüilamente e com muita simplicidade, coloque sua atenção na região do coração e comungue com ele...

Sinta apenas, deixe-o fluir...



Escrito por Lílian de Almeida Pereira Bustamante Sá
Pedagoga e Psicopedagoga

Formação em Pedagogia Waldorf, Arte-Educação e Socioterapia

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