segunda-feira, agosto 22

Conversando sobre Arte-educação

“Uma das formas mais eficientes de promover a saúde emocional das crianças é proporcionar-lhes meios de criar, resgatando ou alimentando seu potencial criativo. No mundo em que vivemos, cada vez mais mergulhados em altas tecnologias, diversões eletrônicas e relações virtuais, torna-se comum que as crianças passem horas de lazer em frente às mais diversas telas de computador, com seus corpos imobilizados, falando mal, escrevendo mal, criando pouco ou quase nada.
A criatividade vai, aos poucos, sendo anestesiada, até adormecer por completo. As pessoas vestem-se da mesma forma, dançam da mesma forma, se copiam. É uma grande uniformização, que nos faz perder a auto-referência. A arte, neste aspecto, pode ser transformadora”.

Vanessa Coutinho



O fazer criativo nos ajuda a abrirmos as portas da sensibilidade humana e por suas características libertadoras e organizadoras, podemos trilhar caminhos direcionados ao autoconhecimento, além de obter uma vida equilibrada e saudável. Os materiais expressivos como tintas, pincéis, giz-de-cera, argila, trabalhos manuais, dentre outros, são instrumentos fundamentais para a integração da personalidade. Para o universo infantil, eles possibilitam à criança, controlar seus movimentos e ampliar a consciência de seu próprio corpo e de suas vontades. Este processo deve ser vivenciado como uma atividade que obedece a um tempo próprio, com especial atenção ao processo de criação, mais até do que o produto final, e que não focaliza resultados padronizados, como por exemplo: certo ou errado, feio ou bonito, etc.

O ato de criação é uma experiência única, portanto de forma espontânea e lúdica, a criança exercita harmoniosamente suas habilidades e potencialidades. Alessandrini (1999) afirma, “Pela exploração do universo da arte e do conhecimento intrínseco presente no fazer artístico, podemos desenvolver níveis superiores de linguagem e de cognição. O caminho da linguagem não-verbal pode abrir um universo de explicitação de habilidades intelectuais, presentes no potencial cognitivo de cada um”.

A arte-educação beneficia o equilíbrio emocional, e auxilia crianças a expressarem seus bloqueios, medos e inseguranças, reconhecendo seu potencial criador e mantendo uma relação sadia consigo mesma e com os outros.

Nos tempos atuais, muito se fala sobre criatividade, na verdade, ela tornou-se uma palavra de ordem principalmente nas escolas, mas talvez necessitamos rever alguns aspectos, e buscarmos uma compreensão mais profunda sobre o assunto. Para Lorthois (2002), “Crianças respeitadas na sua individualidade são criativas, no sentido mais autêntico da palavra, mesmo quando não produzem vistosas criações”.

Penso que o verdadeiro espaço da criatividade, é aquele em que a maioria de nós, precisamos urgentemente nos dedicar - que é o espaço da vida interior da criança. Por meio da arte-educação, podemos tocar este espaço e fazê-la perceber seu centro, e assim despertar o desejo de crescer, elevar-se (em francês, existem duas palavras para expressar o educar de uma criança. A primeira é eduquer, e a segunda, élever. Élever tem também o sentido de elevar).

Esclarece Lorthois (2002), “Criança sadia se constrói com qualidade. Conteúdos artísticos são alimentos, e não devemos dar nada tóxico para as crianças”.

Através destes conteúdos, podemos estimular o crescimento integrado da criança, propiciando que ela se desenvolva e se aproprie de seu potencial afetivo, criativo e mental. Quando utilizado de forma sensível e cuidadosa oferece em algumas situações, a oportunidade de restabelecer algo que se perdeu no decorrer da vida, “o indivíduo que antes vivia o caos, agora coordena sua ação de aprender no espaço e no tempo: o caos torna-se cosmo e ele experiencia uma libertação interna que o reconecta com a vida.” Alessandrini (1996).

Escrito por Lílian de Almeida
Pedagoga e Psicopedagoga

Formação em Pedagogia Waldorf, Arte-Educação e Socioterapia

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