Crie um novo roteiro para sua vida
Pequenas mudanças de comportamento podem desencadear atitudes positivas e nos levar a ver o mundo de forma mais leve. Se alguma coisa incomoda, acredite, só você tem o dom de transformar isso, reescrevendo sua história com outro final.
Um novo corte de cabelo, 2 kg a menos, uma pele descansada. Mudar o visual é sempre um bom caminho para melhorar nossa relação com o espelho e com a vida. Da mesma forma, operar pequenas mudanças em nossa maneira de ser pode nos tornar mais leves e confiantes.
Podemos começar observando o que nos paralisa, nos acua, nos deixa desarmados. Há sempre um aspecto de nossa personalidade que nos incomoda. Insegurança? Autocrítica exacerbada? Medo de expor opiniões? Somos o produto do meio em que fomos criados. Felizmente, como lembra Gilberto Valle, médico da Clínica Tobias, de linha antroposófica, “à medida que crescemos, temos a possibilidade de mudar, nos responsabilizando por novas escolhas”. A opção é nossa: continuar como estamos ou procurar transformar o que não queremos mais carregar.
“Muitos temores diminuem quando fortalecemos nossa autoestima”, afirma Paulo Fueta, psicólogo e psicoterapeuta, professor de relações interpessoais no trabalho do Senac de São Paulo. Sempre é tempo de mudar. E, com as dicas de especialistas, você entende melhor o que fazer a respeito dos questionamentos que afligem todos nós. Aproveite para fazer as pazes com você mesmo e ter uma vida mais harmoniosa.
Sou muito autocrítico. Como posso mudar esse comportamento?
“A pessoa autocrítica é muito rigorosa em relação à autoimagem. O que pode ajudar a minimizar isso é a desconstrução da idéia de perfeição”, explica o psicólogo e psicoterapeuta Paulo Fueta. O autocrítico cria uma expectativa desproporcional do quanto ele conhece e sempre vai exigir muito mais do que agüenta. Não queira ensinar o padre-nosso ao vigário. Um bom exercício é se colocar na seguinte situação: se você não é médico e vai discutir com um médico sobre uma cirurgia, é claro que a conversa não será de igual para igual. E nem por isso você vai se cobrar por não saber o suficiente. É preciso ter noção de seu limite.
Eu sempre digo sim para os outros, ignorando minhas necessidades. Como estabelecer limites?
Pensar no que você ganha ao dizer sim e, ao contrário, no que perderia se dissesse não é a sugestão de Corrado G. Bruno, médico homeopata e antroposófico do Artemísia e presidente da Liga Médica Homeopática Internacional. “É uma perda ou um ganho afetivo? É uma questão que envolve respeito e consideração na família ou no trabalho? É receio de não ser querido? Essas são algumas perguntas que podem ajudá- la a se guiar melhor diante de uma exigência”, explica Bruno. Colocar limites não é uma tarefa fácil. “Tente expor sua opinião de forma adequada a cada situação, tomando o cuidado para não atingir o outro”, aconselha Felipe Corchs, médico psiquiatra e pesquisador do ambulatório de ansiedade (Amban) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.
Eu sempre engulo sapos. Que faço?
“Engolir sapos significa não dar limites para o outro. Às vezes, isso acontece por receio de ouvir não e pode indicar medo de rejeição. O que você não quer para o outro também não quer para si”, explica Fueta. Para ele, é preciso arriscar. “Comece com pequenos nãos e aprenda a diferenciar o que é invasivo demais do que é suportável”, diz.
Tomo decisões com facilidade no trabalho, por exemplo. Mas mudanças na vida pessoal me paralisam. Como sair dessa estagnação?
Muitas pessoas têm dificuldade em lidar com a subjetividade das relações interpessoais e afetivas. “Não existem fórmulas mágicas, mas essas situações podem ser desmitificadas, se tornando menos assustadoras se forem enfrentadas”, aconselha Corchs. Identificar os comportamentos que paralisam é o primeiro passo para a mudança, acredita Bruno. “O hábito faz o monge. Quantos atos automáticos repetimos diariamente sem reflexão?”, pergunta. Que costumes, atitudes, comportamentos você sente que não quer mais carregar? Esse exame de autoconhecimento é fundamental para adquirir um novo olhar em relação às decisões de cunho pessoal.
Sou muito inseguro. Recentemente fui promovido no trabalho. Mesmo assim não estou seguro de minhas habilidades. Como evitar me sentir uma fraude?
O inseguro não confia no próprio potencial ou competência. Segundo Fueta, é preciso aceitar que a referência do outro é suficiente. Como você pode ser uma fraude se foi promovido? “Busque feedback nas pessoas, preste atenção e veja se não está sendo autocrítico, exigente demais”, aconselha o psicólogo. “Se houver feedback negativo, busque um contraste, avalie quais são as opiniões mais importantes para seu trabalho”, diz Fueta.
Meu peso interfere demais em meu humor. Quando aumenta, fico deprimido. Como lidar com isso de um jeito mais tranqüilo?
Mudanças de atitude pedem um exercício de autoconhecimento. Se o peso traz desconforto, entenda que é de sua responsabilidade encontrar a solução do problema. “Ao estabelecer uma relação adequada com o alimento, vou ensinar meu corpo a funcionar com mais equilíbrio. Se preencho meu tempo com atividades saudáveis, fazendo de cada dia um dia bem vivido, se faço uma dieta saudável e não nutro sentimentos negativos, provavelmente serei capaz de semear o bom humor”, ensina Valle.
Acho que tenho que estar informado de tudo, mas o excesso de informação me deixa confuso, não consigo acompanhar as mudanças do mundo.
Mais uma vez, o ponto é a autoestima. Criou-se um mito de que toda informação é importante e, quanto mais se sabe, mais se é competente. “Há uma certa confusão de que informação é conhecimento, mas muita coisa é lixo”, diz Fueta. Selecione o que realmente importa para sua vida. Comece questionando cada informação, discuta com outras pessoas se esses dados não são descartáveis e só então se aprofunde no assunto. Por exemplo, se você é um pianista clássico, é bom estar a par da vida e obra dos grandes compositores. Caso contrário, essa informação serve para enriquecer sua vida.
Sou impaciente. Acho que tudo anda devagar.
Neste mundo acelerado, a paciência parece ter perdido seu espaço. Eis uma virtude a ser conquistada. Preste atenção e perceba se você não é uma dessas pessoas que não suportam estar consigo mesmas, não descansam nas férias ou não agüentam o vazio do domingo. Para exercitar a paciência, Valle sugere que você ouça um disco do começo ao fim, mastigue bem os alimentos, dance, caminhe por uma trilha, brinque como uma criança dando-lhe toda atenção, cante em um coral, acompanhe o passar do tempo e medite diariamente. Coisas assim seguram a ansiedade.
Evito a intimidade com as pessoas pela dificuldade que tenho em confiar nelas.
Ser verdadeiro nas relações é um bom começo. Tente cultivar uma amizade, dividir experiências com colegas de trabalho, aceite um convite para uma festa. “Se recebemos confiança de nossos pais quando pequenos é mais fácil carregá-la para as etapas futuras de nosso desenvolvimento”, afirma Valle. O principal é não fazer pré-julgamentos ao se aproximar das pessoas. Não entre numa relação já pensando que um dia poderá ser traído. Convide alguém para compartilhar uma atividade social. Tomando a iniciativa, você pode iniciar uma forma de convívio diferente.
Fico preocupado com a facilidade com que meu humor oscila. Isso me deixa angustiado.
Ao notar a primeira alteração no humor, deve-se pesquisar dentro de si mesmo qual é o fato ou a circunstância que provocaram a oscilação. Ao identificá-los e entendê-los sob o ponto de vista do momento vivido, pode-se então trabalhar de modo a transformar o comportamento. “Por exemplo, se um acontecimento ou contradição me deixam irritado, preciso me perguntar por que reagi assim. Por que isso foi suficiente para me alterar?”, diz Bruno.
A opinião das pessoas tem muito peso na minha vida. Como posso mudar isso?
“Seria difícil viver em comunidade se não levássemos em conta a opinião dos outros”, lembra Corchs. O problema é não conseguir ter opinião própria. Para não correr o risco de se anular, a melhor saída é expor sua opinião de forma clara, evitando a agressividade. O homeopata Bruno diz que é preciso tentar descobrir se temos necessidade de obter opiniões favoráveis das pessoas. “Será que falta algo em mim que tem de ser preenchido por algo ou alguém de fora? E, se falta, o que é? Como posso preencher essa necessidade?”, pergunta. As respostas a essas questões vão ajudá-lo a se tornar menos dependente do que os outros acham.
Os problemas do mundo me afligem, mas não sei de que maneira minimizá-los.
O sentimento de indignação pode despertar o interesse por uma ação social. “Cada um é único e tem uma missão a cumprir. Se eu não fizer, vai ficar por fazer. Se fizer o mal, o mal aumentará. Se fizer o bem, o bem se espalhará. Se procuro melhorar, se diminuo minha infelicidade, melhoro o mundo”, afirma Valle. Existem inúmeras possibilidades de exercer a cidadania e o altruísmo. Experimente acessar os sites que reúnem parte das organizações não governamentais do país. Veja com qual ONG você se identifica.
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